terça-feira, abril 17, 2007


Quando as portas do inferno se abriram...

Eram 10 da noite duma segunda-feira. A minha senhoria bêbeda com duas cervejas e com os seus 48 anos, decide tirar a carpete da entrada. Tirar não... Arrancar.
Como todos os trabalhos domésticos realizados por ela, ficou a meio. O papel de parede do corredor ficou a meio, e o chão cheio de bocados de papel ainda não foi limpo... O papel de parede do quarto dela ficou a meio... A carpete do corredor ficou a meio...
E quando estava com uma força sobre-humana a tentar arrastar um armário para arrancar a carpete, partiu o maldito armário, que agora jaz morto no corredor... Confesso que à parte da falta de limpeza dela (nunca limpa a ponta dum corno, aliás deslimpa), da barulheira que faz até quando anda (parece que tem cascos), de usar as coisas pessoais dos outros (tal como pentes e pasta de dentes e sabe-se lá mais o quê) e da fonice (dividimos a comida e ela nunca compra nada), realmente isto é a cereja no topo do bolo... Pensava eu na minha inocência...

Eram 3.30 da manhã duma segunda-feira à noite, ou madrugada, quando ela volta a casa podre de bêbeda com o grupo de espanhóis que se tinham alojado na minha casa tal qual carraças... Claro que foi inevitável o meu acordar com a barulheira e as conversas à entrada. Pensei que se ia ficar por aí. Mais uma vez dei provas da minha inocência e, direi mesmo mais, estupidez galopante.

Vão para a cozinha, onde começam a cozinhar e a falar. Supostamente com a porta fechada, mas custa-me a crer: a barulheira era muita. Não sei se aquilo é o chamado jantar espanhol, sempre às tantas da noite... A minha senhoria, sem mais medidas, põe música. Repito: eram 3.30 da manhã duma segunda-feira, quando eu, como qualquer pessoa normal, tinha que trabalhar no dia seguinte... Mas a quem é que isso interessa? A Porcotte que se foda...

Conversa para aqui, conversa para ali, sempre num tom de voz acima do limite para me deixar dormir. Eu já fumegava na minha cama.
Passos no corredor. As espanholas vão para o quarto. A minha senhoria fica na cozinha com um gajo que eu nem sabia quem era...
Ouve-se um estrondo enorme e louça partida pelo chão... Risos, música, conversa...
Porcotte levanta-se, fecha a porta da cozinha com estrondo e volta para o quarto onde fecha a porta do quarto com estrondo também... Aparentemente a porta da cozinha estivera fechada, mas não sei porquê estava aberta naquela altura...

A sua senhoria vai primeiro para a casa-de-banho com o gajo... Vai para o quarto dela depois, que fica ao lado do meu. Vai para a cama com ele, na cama encostada à parede onde eu tenho a minha.

Digamos que Porcotte só adormeceu quando eles satisfizeram a sua luxúria...

Digamos que Porcotte tinha tampões nos ouvidos e ouviu tudo, desde a cama a chiar num tom compassado, até aos gritos da senhoria a dizer: “Si, si, si”... Digamos também que a sua senhoria tem uma tara com Espanha e espanhóis, e aparentemente até a dar uma queca em vez de falar inglês, fala espanhol...

Digamos que o moço tinha 23 anos e que ela o conheceu a caminho de casa... Digamos também que o estrondo na cozinha foi porque partiram a mesa da cozinha quando estavam em cima dela (o que estariam a fazer...?). Digamos que despejaram coca-cola para o chão e para cima deles e o chão estava nojentemente pegajoso de manhã. Digamos por último que a casa-de-banho tinha um cheiro indefinido quando Porcotte lá entrou de manhã, que quase a fez vomitar...
Digamos que Porcotte está a pagar um quarto caro como o caraças, para não dormir, para limpar a merda dos outros, para comprar comida que outros usam, para ouvir outros a darem umas.

Digamos que Porcotte deu o grito do Ipiranga e que quando se levantou de manhã já não era a mesma. Pelo respeito que mostraram por ela bateu com as portas todas quando se levantou às oito da manhã. Quando chegou a casa á noite, despejou tudo para fora, e mostrou-se “ligeiramente” irritada. Passou também a fazer as coisas como lhe convêm, e se desagradar aos outros, digamos que se lixe. Está apenas à espera que a sua senhoria volte de Espanha para lhe dizer na cara que se recusa a ouvir as suas intimidades. Afinal não é para isto que estou a pagar um quarto.

Digamos também que Porcotte saturou e que vai mudar de casa assim que puder...

segunda-feira, abril 16, 2007

Eu hoje acordei assim:


Com a cabeça a explodir.
É incrível o barulho que gera uma mente que não sossega.


Mas depois pensei assim:


E m'a nada.
Headache, esta foi para ti.

sexta-feira, abril 13, 2007

Estava mais que certa que, este fim de semana, a minha vida iria seguir um dos dois planos seguintes:


O Plano A
Sexta-feira ao final do dia, iria olhar para cima do monitor, acenar à Lu. Este iria ser o sinal para pegar nas trouxitas para nos encaminhar à fuga de Sevilla, con las amigas. Fim de semana de viagem, pagode, risos e sabe-se lá o quê... ¡de todo un poco!
Porém, sendo que aqui a miss shoo decidiu não investir em mais sapatos e toilettes, mas sim poupar para futuras férias e viagens, achou por bem stick to the plan, e por este mês o verbo chave foi: poupar.

Next...


O Plano B
Um fim de semana daqueles de vingança de um último passado muito ranhosamente. Acordar tarde, ouvir musica escolhida por mim, ao volume que gosto, rodando a casa descalça com um croissant fresco, passando pela varanda com mega sol, olhinho fechado e cadela aos pés. Seguido de um almoço daqueles bem saborosos, e pimbas toca pegar no carro e ir até ao guincho.
Pés descalços de novo, mas desta vez é na areia e água salgada... ahhhh paraíso. Depois de uma boa dose de praia, pegar no carro e ir até à marina, passear, olhar, pensar... ahhhh o auge. Voltar a Lisboa e quiçá, preparar-me para jantar fora, e o resto... não sei, mas logo se via.
Quanto ao domingo: festejar com calma os anos do meu pai, incluindo uma ida ao Jardim da Cerveja. Provavelmente a seguir um belo passeio casa-docas a pé, até ao Hawaii para comer simplesmente um dos melhores cachorros de todos os tempos (os cachorros do guincho que me perdoem, mas é uma realidade).

Mas... tudo isto, hélàs, foi substituído (destruído, arruinado, extinto, aniquilado... argh... pant...) pelo sacana do Plano C (C de... c**** t’a f*** que não estava à espera disto).



O Plano C
Acordar como todos os dias. Vestir-me e preparar-me como todos os dias. Seguir pelo parque como todos os dias. E chegar às portas da agência, tocar à porta, entrar no elevador, subir ao sétimo, sentar-me à mesa, ligar o mac e trabalhar... como todos os dias.

Alguém me traga a caçadeira...

... ou drogas pesadas.
Não sou esquisita.

Nem ligeiramente dramática.

quarta-feira, abril 11, 2007

Eu hoje
acordei, passei o dia, e vou adormecer,

assim:



Raiventa contro o Mundo.
E todas as suas injustiças instrínsecas e adjacentes.

segunda-feira, abril 09, 2007

Desculpem, não é para fazer inveja, é só para partilhar a beleza!


- North Berwick

Porca da merda, ainda estou à tua espera!

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Espanhóis


Ora bem, longe de mim generalizar. Odeio tal coisa...


Tenho uma colega de casa espanhola. Ela é simpática, mas tipicamente espanhola: quer borga minuto sim, minuto sim, não se cansa com nada, dorme pouco e parece que quer aproveitar a vida como se fosse morrer amanhã. Tudo bem, respeito o desenfreamento. Cada um com as suas.


Normalmente aos fins-de-semana isto enche-se de espanhóis amigos dela e amigos dos amigos. Não costuma ser muito tempo. Um jantar ou um dvd. Uma festa de quando a quando. Mas até está bem, não são muitos afinal e são agradáveis. A barulheira não é grande e convívio é sempre bom... Aos fins-de-semana. E há um pouco de tudo: alemães, franceses. A espanholice acaba por se diluir, e as conversas são sempre boas.


Agora, quando ficam 4 amigas dela cá a dormir em casa por uma semana, Deus me acuda que os meus instintos psicopatas afloram... Não chegava as amigas, ainda se alojam cá os amigos do costume também...


Tudo começa quando se levantam ao meio-dia, e juro que a primeira coisa que fazem é abrir aquela boca, e já não a fecham mais até ao dia seguinte.

Depois falam como se fossem metralhadoras de última geração. Não consigo entender como conseguem manobrar aquela língua com tanta rapidez. Deve ser o músculo mais desenvolvido que eles têm...

Para ajudar recusam-se a falar inglês, e eu como boa portuguesa com sangue espanhol, não entendo o que eles dizem (entendo praí 1/4 ou coisa que o valha...). Também confesso que a vontade de entender é pouca. Quando há pouca vontade de se fazer entender do outro lado, desligo, cago e viro as costas. Só falta mesmo começar à porrada tal qual Padeira de Aljubarrota... Vontade não me falta por vezes.

Almoçam ou tomam o pequeno almoço à 1 e saiem até à hora do jantar. Voltam e jantam às 10-11 da noite e voltam a sair até às quatro da manhã... Depois voltam para casa e dormem até à hora do almoço.
E se volto a cheirar "tortilla de patata", acho que vai haver "patatada" pela certa!


Por mim tudo bem, cada um que faça o que quer, agora como puta de vida sou eu suposta levantar cedo com a cabeça fresca para ir trabalhar se não consigo dormir com este basqueiral? Quando durmo estão eles acordados, quando me levantam, estão-se eles a deitar! Ah malditos nuestros hermanos...

segunda-feira, abril 02, 2007

Hoje adormeci a pensar assim:


Nice guys finish last.

(ao som da chuva a bater nos vidros do quarto... eu digo-vos onde podem enfiar a primavera, o karma e as boas maneiras...)

domingo, abril 01, 2007


Casamento. Casamento. Casamento.


É disto que oiço falar desde miúda, já que era o sonho de 90% das minhas amigas. Crescendo, a percentagem diminuiu bastante, mas também é de salientar que as amizades tiveram uma grande reviravolta. No meio destas, surgiu a Porca, companheira de aventuras, que também anda naquele 10% que se abstém do acto com C grande.

Neste último mês, esta palavra parece que se alapou ao meu cérebro, e desde então não me tem largado. Acho que tudo começou quando o Pedrito deixou o convite do casamento o mês passado. Depois, foram as conversas ao sol (... acho que isto teve influência, porque sol na carola nunca pode dar em boas conversas) na varanda da agência, com a Lu:
- Mas tu não vês um casamento no teu futuro?
- Não necessariamente. Vejo tudo o que isso implica de bom, menos todas as partes más, e o contracto inerente a ele.

Passou pelas conversas de meia-noite no msn com o Garcia:
- É, e se o italian man pedir?
- Ele não pede... trust me... e se ele pedisse, a minha resposta provavelmente seria: “estás bem???? Não mas a sério, bateste com a cabeça? Estás a morrer de alguma doença estranha? Fizeste um voto a algum santo?”...
- Olha olha...
- Olha olha o quê?
- Olha olha um dia podes ter uma surprise.

Até chegar às conversas de cozinha com a minha mãe: “Ai Sara (sim, o meu nome É SARA), mas que ódio é esse agora do casamento e das pessoas casadas?”. Ora bem... acho que chegou a altura de salientar umas coisinhas:
Apesar de eu ser muito céptica em relação ao casamento hoje em dia, eu nunca exprimi o desejo de casar. Nunca o quis. Essa história do “agora não queres” é treta. Sempre me assustou, horrorizou, daí os meus inúmeros pesadelos do fatídico acto.
MAS apesar disto tudo, não implica, nem nunca implicou, uma repugnância para quem sonha com esse dia, ou por quem já passou por eles.
Em relação a esses mutantes verdes, de um olho só, perna curta e braços longos (cof cof...) que optaram por casar... acho que se seguiram o que o coração lhes mandou, se o fizeram por amor, paixão ou muito dinheiro (cof cof bis...) então admiro-os por isso. Nunca julguei ninguém, não vou começar hoje. Quem quiser, case. Quem não quiser, melhor (... tris).
Agora... com o mesmo raciocínio, por não querer, entender, optar sequer por essa via, não façam o mesmo. E porque não quero, não quero menos amor, paixão, momentos lindos etc e couves lombardas (com salsichona sff), e não é por isso que sou um bloco de gelo, insensível e pouco romântica. Até porque se há menina nestas coisas... (tell them Noja...!).

E enfim, no meio destes meus dilemas emocionais, ontem lá se casou o Pedrito. Entre as lagriminhas da minha mãe na Igreja (que suspeito tivessem muito a ver com o apertar do sapatinho novo, e pouco com a emoção da noiva ao dizer os seus “I dos”), eu, o meu pai e o meu irmão lá nos riamos a imaginar cenas de filmes de casamentos (o mais notório obviamente “Four Weddings and a Funeral”...), sendo este último o meu parceiro nesta alergia ao casório.

Quanto a eles: à parte disto tudo, fiquei contente, como é óbvio. Correu tudo bem, e estava tudo muito bonito. Aliás, estava tudo delicioso, desde o aspecto, ao sabor. Se forem “felizes para sempre”, como se escreve nas fábulas... isso já não sei, não depende de mim, nem do que o senhor Padre fez na igreja, nem do que se passa no céu, no Olimpo e nas estrelas e astros, mas sim deles. And that’s all I’m sayin’.

Quanto a mim: encontrei um texto que escrevi, numa noite que recordo perfeitamente bem, e que é demasiado íntima para expor aqui (irónico não é? paradoxal quase...). Foi um devaneio, de um possível enlace à minha maneira, uma coisa a dois... (Se calhar esta teria sido a resposta à pergunta no msn de a bocado, o que se segue neste pequeno “conto fictício”...).

E para mim hoje, a loja fechou.
Good Night, and Good Luck *

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O Girassol


"
São cinco da tarde. Olho pela janela e vejo a luz laranja que ilumina os campos de girassóis. Sorrio e penso como são sortudos em seguir o sol a toda a hora. Viro a cara e olho para o espelho à minha frente. Viro-me como os girassóis, para o meu futuro. O meu vestido quase reflecte a luz de tão branco que é. Suspiro, mas suspiro feliz. Sozinha no meu quarto penso no dia em que nos conhecemos. Nos anos que passaram. Nos momentos maus, e sobretudo nos bons. Foram tantos. Foram sobretudo tão bons que não os esqueci.

Oiço alguém a rir lá fora, parece um riso de uma criança. Enquanto cheiro uma frésia, sorrio pensando no presente e no futuro. Olho para o espelho novamente, desta vez de baixo para cima. O tecido ligeiro do vestido que me envolve é tão fresco que quase nem o sinto na pele. Penso em ti, no que estarás a fazer neste momento, e sinto um arrepio quente, um nó na barriga.

Olho para o relógio, são já cinco e vinte. Nem me dei conta. O sol, está mais laranja que nunca. Os girassóis, eles continuam virados. E eu, viro-me para a porta. Avanço segurando os três ramos de frésias brancas na mão. Avanço para a porta, avanço para fora da casa, avanço para fora da vida que tive até aquele dia, avanço para o meu futuro. Ao longe vejo a água do oceano que brilha. Os seus tons aquecem-me até à alma. O cheiro das frésias intensifica-se.

Estás lá. Sei que estás. Avanço... devagar.

Sei que estás ali, a metros de mim. Sinto a tua presença. Não acredito que estamos mesmo a avançar com esta loucura. Sinto o meu medo a crescer. Aproximo-me da água, e oiço as primeiras notas musicais do cânon a serem tocadas por uma guitarra clássica. Dou um passo descalça e detrás do cole, vejo-te.

Estás lindo. Estás lindo... És lindo.

Sorrio enquanto os meus olhos se enchem de lágrimas e brilham. Tu olhas-me com aquele teu olhar mais doce, mais protector, mais cúmplice de sempre. Avanço... e avanço mais rápido. A música acompanha-me e não te largo o olhar. A tua camisa de linho branca esvoaça com a brisa, em sincronia com os movimentos do meu vestido e do meu cabelo. Tropeço e rio-me. Olho para ti e tu, ris enquanto esticas a mão para eu a agarrar.

Ponho o cabelo atrás da orelha, enquanto seguro com uma mão nas flores e no vestido suavemente. A outra mão é tua. Salto e estou ao ao teu lado, no barco. Salto, e estou no teu futuro. No nosso futuro. Assusto-me. Viro-me para olhar para os teus olhos e tu estavas já fixo em mim.

“Quero andar de mão dada contigo para sempre”.

Oiço as tuas palavras enlaçadas com a melodia de Pachelbel, e sem largar o teu olhar, escorre uma lágrima silenciosa.
Desafio todas as regras e beijo-te antes do tempo.

És, e serás um pouco meu.
Sim, um pouco meu. A partir de hoje… e até sempre.

"