Eram 10 da noite duma segunda-feira. A minha senhoria bêbeda com duas cervejas e com os seus 48 anos, decide tirar a carpete da entrada. Tirar não... Arrancar.
Eram 3.30 da manhã duma segunda-feira à noite, ou madrugada, quando ela volta a casa podre de bêbeda com o grupo de espanhóis que se tinham alojado na minha casa tal qual carraças... Claro que foi inevitável o meu acordar com a barulheira e as conversas à entrada. Pensei que se ia ficar por aí. Mais uma vez dei provas da minha inocência e, direi mesmo mais, estupidez galopante.
Vão para a cozinha, onde começam a cozinhar e a falar. Supostamente com a porta fechada, mas custa-me a crer: a barulheira era muita. Não sei se aquilo é o chamado jantar espanhol, sempre às tantas da noite... A minha senhoria, sem mais medidas, põe música. Repito: eram 3.30 da manhã duma segunda-feira, quando eu, como qualquer pessoa normal, tinha que trabalhar no dia seguinte... Mas a quem é que isso interessa? A Porcotte que se foda...
Conversa para aqui, conversa para ali, sempre num tom de voz acima do limite para me deixar dormir. Eu já fumegava na minha cama.
Passos no corredor. As espanholas vão para o quarto. A minha senhoria fica na cozinha com um gajo que eu nem sabia quem era...
Ouve-se um estrondo enorme e louça partida pelo chão... Risos, música, conversa...
Porcotte levanta-se, fecha a porta da cozinha com estrondo e volta para o quarto onde fecha a porta do quarto com estrondo também... Aparentemente a porta da cozinha estivera fechada, mas não sei porquê estava aberta naquela altura...
A sua senhoria vai primeiro para a casa-de-banho com o gajo... Vai para o quarto dela depois, que fica ao lado do meu. Vai para a cama com ele, na cama encostada à parede onde eu tenho a minha.
Digamos que Porcotte só adormeceu quando eles satisfizeram a sua luxúria...
Digamos que Porcotte tinha tampões nos ouvidos e ouviu tudo, desde a cama a chiar num tom compassado, até aos gritos da senhoria a dizer: “Si, si, si”... Digamos também que a sua senhoria tem uma tara com Espanha e espanhóis, e aparentemente até a dar uma queca em vez de falar inglês, fala espanhol...
Digamos que o moço tinha 23 anos e que ela o conheceu a caminho de casa... Digamos também que o estrondo na cozinha foi porque partiram a mesa da cozinha quando estavam em cima dela (o que estariam a fazer...?). Digamos que despejaram coca-cola para o chão e para cima deles e o chão estava nojentemente pegajoso de manhã. Digamos por último que a casa-de-banho tinha um cheiro indefinido quando Porcotte lá entrou de manhã, que quase a fez vomitar...
Digamos que Porcotte está a pagar um quarto caro como o caraças, para não dormir, para limpar a merda dos outros, para comprar comida que outros usam, para ouvir outros a darem umas.
Digamos que Porcotte deu o grito do Ipiranga e que quando se levantou de manhã já não era a mesma. Pelo respeito que mostraram por ela bateu com as portas todas quando se levantou às oito da manhã. Quando chegou a casa á noite, despejou tudo para fora, e mostrou-se “ligeiramente” irritada. Passou também a fazer as coisas como lhe convêm, e se desagradar aos outros, digamos que se lixe. Está apenas à espera que a sua senhoria volte de Espanha para lhe dizer na cara que se recusa a ouvir as suas intimidades. Afinal não é para isto que estou a pagar um quarto.
Digamos também que Porcotte saturou e que vai mudar de casa assim que puder...