Função pública? NÃO! Função púbica!
Devo confessar que estou aquilo ao que chamo os 3 P’s: passada, possuída e possessa. Porquê? Porque hoje foi o dia mais bem passado e agradável da minha vida... Ironia?
Precisava de tratar de um cartão de saúde e então ontem dirigi-me ao centro de saúde da minha zona. Disseram-me quais os documentos de que eu precisava (CLARO que não tinha todos, por isso não pude tratar na altura. Falta sempre uma caca de mosca dum documento), e eu aproveitei para dizer que me ia ausentar do país por uns meses e que me dissessem também já agora do que precisava para ter assistência médica lá fora.
Quero referir antes de prosseguir a história, que a senhora que me atendeu era amorosa: assim uma mistura de Medusa com Cruela Devile. As serpentes não estavam na cabeça, mas sim naquela língua viperina bifurcada que cospe veneno de cada vez que abre a boca. (Onde ela queria a serpente enfiada sei eu, mas não digo).
Falando-me de alto e falando alto também, como se eu fosse uma atrasada mental (tive quase para dizer: “Ó minha senhora, mas pensa que está a falar com quem? Com a sua vizinha? Trate-me por senhora engenheira e com muito respeitinho”. Não o fiz porque odeio puxar dos galões, “Mas para a próxima levas nas trombas. Não perdes pela demora, minha besta!”, pensei para mim), informou-me, sempre com aquele tom de vaca leiteira que está para parir e lhe pesam as mamas, que: “Ai, então não vale a pena tratar deste. Vá directamente à Segurança Social, e trate do outro, já que vai para fora! Pode ir tratar aqui ou aqui!”. Ao que a bela da Porcotte responde: “Mas tem a certeza? Basta o outro? Então posso usar o outro também cá?”, ao que a vaca vesga com beiços rosa-choque me responde: “Pode, pode!”, e assim me despacha à velocidade a que a galinha põe um ovo. Aliás, na última palavra, já nem estava a olhar para mim, mas de braço estendido como uma pedinte miserável para atender outras pessoas. Estive quase para lhe atirar com um cêntimo aos cornos, como caridade (onde ela queria o cêntimo sei eu...).
Hoje então levanto-me cedo e chego à segurança social às nove e meia da manhã. Grande confusão, não percebo nada daquilo nem onde me devo dirigir, pergunto a este e aquele, e entretanto um senhor muito simpático dá-me uma senha duma senhora que tinha desistido (deve ter sido dos meus lindos olhos, ou pernas, porque eu estava de vestido, toda uau). Penso eu: “Desistiu já? Porque será? Isto só abriu às nove!”. Olho para a senha e vejo: 104. Olho para o painel e vejo: senha número 9.
Por dois dias seguidos que se me gelam os pintelhos. Naúseas, ardores no estômago, cólicas, vómitos, e suores frios (vou mazé fazer um teste de gravidez... Nunca se sabe... O ar transporta tanta coisa!). “Ok... Isto está a andar a passo de caracol... Estamos mal... Vou passar aqui todo o santo dia”. Olho em volta: tudo com cara de poucos amigos, com ar cansado. Com ar miserável.
As horas passavam, os números é que não. Até houve uma altura em que me deu a impressão que andaram para trás. Quase juraria com todos os dentes que tenho e os que me faltam...
Queria também saudar à brilhante organização do sistema de atendimento: há os números normais, e os prioritários. Quem são os prioritários? Supostamente seriam os idosos de bengala, as pessoas de cadeira de rodas e as grávidas...
Para já, nunca vi tanta grávida e criança na minha vida... E depois dizem que a Europa está a envelhecer... É só ir à Segurança Social e vê-los a nascer do chão!
Depois ele era ver pessoas com crianças dos 5 aos 14 anos com senhas de prioridade, ele era pessoas “coxas” com senhas de prioridade (que quando pensavam que iam ser atendidos, se punham de pé, mas o atendimento demorava e elas heroicamente se mantinham de pé à espera... Deviam ter umas “dores”!), ele era pessoas ACOMPANHADAS por pessoas com crianças com senhas de prioridade... Aquelas senhas amarelas de prioridade tornaram-se na peça de maior desejo da minha parte. Nunca quis tanto nada na vida... Cada vez que via uma senha daquelas, dava-me o impulso de saltar da cadeira e roubá-la... "My precioussss". Mas a cereja no topo do bolo é que cada vez que vagava a vez, chamavam um prioritário, e como os prioritários não paravam de chegar (malditas parideiras e criancinhas), claro que eram logo atendidos. Os outros? Que se fodam!
Chega as 13h00 e o número estagnara no 45. “Bem, já está na hora do farnel. Já emborcava qualquer coisa”. Mas a estúpida, sempre com medo de perder o lugar (sim, porque se podem evaporar 60 pessoas de repente, sem motivo nenhum), foi a correr comprar uma sandocha mista e uma garrafa de água e voltou para comer no lugar.
Retomam as conversas com o senhor do lado e a senhora do lado, e com quem mais quisesse ouvir e participar na conversa: “Este país é uma vergonha”, ”Aquela ainda agora chegou e já quer passar à frente”, ”Mas aquele em vez de olhar para o computador porque não atende?”, ”Aposto que aquela vai para almoço e nós aqui”, ”Estou aqui desde as sete da manhã”, ”Ainda tenho duas horas de viajem pela frente que eu vim de longe!”, “ Aquele é prioritário porquê?”, enfim, o costume.
Ás 15h23 da tarde: os números vão do 75 ao 104 duma penada... Confesso que tive um orgasmo. Múltiplo. Quanto mais os números avançavam no painel, mais prazer eu sentia. Eu já salivava e espumava por todos os lados. Eu sentia borboletas na barriga. Eu... Eu... Eu sei lá!
Chegou o meu número, e eu entrei, sentei-me e expliquei à senhora o que queria. Ao que ela diz: “Qual o seu número de utente?”. Ao que eu respondi: “Não tenho. Perdi o direito à ADSE quando fiz 25 anos”.
Ela: “Mas não lhe posso dar o cartão que quer sem o número de utente!”.
Eu: “Mas quando fui tratar disso disseram-me que não era preciso porque ia para fora e para vir directamente tratar deste”, já dito com voz e cara de poucos amigos.
Ela: ”Pois, mas sem o número não posso! Já devia ter tratado do cartão de utente”.
Porcotte inspira, e desata aos berros:”Minha senhora, fui informada que não precisava do outro cartão para nada quando fui tratar dele. Nunca precisei dele porque tinha ADSE. Estou aqui desde as 10 da manhã!!!”
Ela: “Eu não tenho culpa que tenha sido mal informada, já devia ter tratado disto quando perdeu o direito à ADSE”
Porcotte levanta-se exaltada, a senhora recua na cadeira, e Porcotte diz, sempre num tom “ligeiramente” exaltado: “ A senhora não tem culpa, mas eu ainda menos tenho! Não tenho culpa que a outra senhora seja uma atrasada mental e me tenha informado mal! Quando fui tratar do cartão, dizem-me que não é preciso, o que quer que faça? Estou aqui desde as 10 da manhã, perdi um dia inteiro por causa de uma má informação dada por uma incompetente!!”
A senhora diz-me para eu me sentar e telefona não sei para onde, a perguntar se realmente precisava do número, ao que lhe respondem que sim. Embora possa parecer simpático da parte dela, tenho que referir que isto foi tudo efectuado com extrema arrogância da parte dela e com cara de: “Eu não lhe disse? Eu bem tinha razão.”
Levanto-me outra vez, continuo a barafustar e a berrar, que “É uma pouca vergonha!” e saio porta fora, não sem antes dizer: “Este país é uma vergonha! Porra!”. Adoro dizer estas coisas, confesso.
Fui à velocidade da luz apanhar os transportes e ainda cheguei a horas ao centro de saúde: eram 16h10.
“Lá está a vaca parideira... Filha duma égua, espera que eu já tas canto...”. Cheguei ao pé dela e disse que ia tratar do cartão de saúde. A cabra enqueijada deve-me ter reconhecido e diz com aquele tom viral: “Sabe, só atendemos até às 16h00, mas não queremos complicar a vida a ninguém”. Porcotte dá o seu melhor riso amarelo, e responde às perguntas de forma bastante seca. “Desta vez minha vaca, escapaste-te... Mas quando tiver que cá voltar não perdes pela demora... Vais ver como elas te mordem, minha alforreca acéfala...”.
Obviamente que o numero vai demorar 15 dias a ser dado, e só aí poderei tratar do outro cartão. Não sem antes dizer que me foram postos bastantes obstáculos perguntadeiros aquando da inscrição para a obtenção do cartão. Mas com a minha cara de poucos amigos e o meu tom seco, a coisa lá andou. Juro por todos os santinhos que ia haver molho se a coisa não se resolvesse hoje...
Puta de função pública! Foda-se!
2 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:
Bravíssimo!
Devias era ter enfiado um pão nos cornos de uma e outra... sempre alívia o stress. Claro que depois era gajo pra não teres cartão... mas EU TAMBÉM NÃO QUERO QUE VÁS PARA O ESTRANGEIRO!
Como vai o teu pai?
By Maria Vinagre, at 21 julho, 2006 00:18
Esta merda faz-me lembrar quando tambem ia para fora do pais e a amiga com quem eu ia disse que precisavamos dum papel qualquer que ja nao me lembro do nome.
Fui à da loja do cidadao, tirei a senha A para documentos (a B era para impressos, acho eu, seja la qual for a diferença), gramei mais de duas horas de espera e quando sou atendida a cabra de merda da besta da empregada diz-me que o papel ja nao existe.
entao eu pergunto o que hei-de fazer e a badalhoca diz que é preciso pedir o cartao europeu de saude, ou merda do genero.
e eu, na minha inocencia, la lhe disse 'entao é isso que eu quero'. e nao é que a cabra me diz 'pois, mas tem de tirar a senha B, essa nao serve'. que grande cabra de merda! la vim embora sem cartao...
desculpem o comentario longo, mas estas merdas irritam-me profundamente. po caralho com a funçao publica!
By Anónimo, at 21 julho, 2006 02:41
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