A arte de guardar segredos... Desde pequena que todos sabiam que quem me revelasse qualquer coisa, podia contar com a minha total discrição.
Ao longo dos anos esta minha virtude (porque não me costumo armar nestas coisas, mas também um pessoa não é somente defeitos!) se manteve. Em inúmeras ocasiões porém, esta (cof cof) dote fez-me deparar com situações quase embaraçosas, como por exemplo: o rapaz por quem estava loucamente apaixonada me proferia o amor eterno que sentia por outra rapariga, e eu ter que o apoiar incondicionalmente sem revelar os meus sentimentos. Ou ainda, tive de fingir não saber que o indivíduo que todos conheciam e que sabiam que tinha uma relação duradoura com a outra senhora, afinal andava enrolado com uma fulana do outro piso. Enfim, estas tais inúmeras ocasiões, deram vida a inúmeros segredos, e apesar de tudo, lá ouvia e ficava calada.
Ao longo dos anos, vim-me a aperceber de duas coisas: pessoas que sabem de facto guardar segredos contam-se nos dedos de uma mão; e contar segredos, isso sim já é algo mais delicado. Vamos lá ver: não se sabe bem se é possível confiar. Certo? Não é evidente que um dia, no meio de uma conversa a pessoa não te despeje a tua história toda no colo de outra pessoa ao lado. E depois há o outro factor, para mim essencial: um segredo contado, deixa de ser teu, e sendo assim, deixa de ter o seu devido valor. E quem fala de segredos, diz informações pessoais, detalhes, curiosidades, acontecimentos.
Há algo na minha mentalidade, ou maneira de ser, que não quer revelar demais por amor ao que quero ter só para mim. É idiota, esquisito, mal jogado... não sei. Sei que quando revelo algo, deixa de ser em parte meu, entra no domínio de quem o ouve e isso de certa forma incomoda-me. De repente dá asas a tudo o que eu nunca faço quando me é revelado algo: o julgamento. És julgado pelo que dizes, fazes, fizeste ou pensaste. Se não é hoje, vão fazê-lo amanhã. Depois, vem o “pois, dizes isso agora, mas quando...” e lá te atiram a bomba (e não estou a falar de gás mostarda). Abrir parte disso, é abrir parte de ti, e as pessoas deviam saber que não é assim tão fácil, e que não é bonito quando alguém quase fisicamente te enfia a mão pela alma dentro, pega nos teus sentimentos e os aperta, abana, estica e depois, até é capaz de os exibir a alguém.
E depois, finalmente, há excepções. Boas excepções. Pessoas que quase sem contares nada, captam o que sentes, o que pensas e sobretudo aos quais revelar um segredo é algo natural. Espontâneo. Pessoas de total confiança. E é por causa dessas pessoas que no final de um dia KO consigo sentir-me melhor, que me rio das minhas próprias fobias, que me rio dos conselhos, e que por vezes gozo mais ainda comigo própria. Porque é isso que muitas vezes temos de saber fazer se calhar: saber rir das nossas próprias figuras, sem medos, e sobretudo poder confiar em pelo menos uma pessoa que faz parte da nossa vida. Pelo menos uma. E se a tiveres, tens muita sorte.
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