quinta-feira, janeiro 19, 2006


Também eu cresci a acreditar em contos de fadas. Naquela alma gémea que havemos de encontrar. Naquela pessoa que nos aceita como somos e gosta dos nossos defeitos. Que ama o que nós mais odiamos em nós. Que basta um olhar e de repente ouve-se uma orquestra de instrumentos de corda por perto. Foi-nos inculcado que príncipes "andem" aí.

Entretanto... Crescemos. Apercebemo-nos que somos um grão de areia na praia que é a população mundial. Que todos têm defeitos e feitios. Que a Cinderela podia ter uns pés lindos, mas aposto que tinha celulite no rabo e hálito a cebola. Que a Ariel cheirava a peixe (et je dirais même plus: cheirava a partes da frente, bacalhau...). Que a Branca de Neve não deve ter sido santa nenhuma com os sete anões... E afinal, a bruxa má devia ser uma leoa na cama...
Que somos meros mortais, sujeitos a descontroles hormonais, emocionais e demais desequilíbrios temperamentais. E com tanta gente a sofrer e a morrer de fome neste mundo, só me pergunto isto: porque carga de água é que eu haveria de ser uma sortuda do caraças e encontrar a minha alma gémea? O que tenho eu a mais que os outros? Afinal, que roleta russa de vida é esta que uns choram porque não têm que comer, e eu choro porque não encontro O TAL? Apenas tenho que dar graças de estar viva, e ter a esperança de acordar amanhã. Príncipes... Venham eles. Alma gémea... Se não vieres, azar. Muito tenho eu, e sinceramente sinto-me mal em queixar-me...
Mas queixo-me... Porque sinto um vazio. Afinal de contas, nasci gaja a ouvir contos de fadas.

Mas afinal... Sonhar alguma vez fez mal? Se não temos sonhos, desistimos? Desleixamo-nos, conformamo-nos? Uma boa dose de sonho é o que afinal nos alimenta e nos leva a procurar mais além. Faz-nos cometer loucuras que nos fazem sentir vivos. Podemos cair e partir o coração, mas que melhor forma de nos sentirmos vivos do que uma alegria imensa seguida de uma desilusão enorme ou vice versa? Pelo menos o coração bate e não se torna pedra.

0 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:

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