quinta-feira, janeiro 19, 2006




É engraçado como as crianças crescem idealizando algumas situações relativas ao seu futuro. Eu quando era pequena por exemplo achava que não tínhamos que trabalhar para viver. Achava que as pessoas que via na televisão a fazer programas é que tinha que pagar para lá estar, e não ao contrário. Achava que o meu Pai é que tinha criado a maior parte das músicas que ouvia como Simon&Garfunkle ou os Beatles. Achava que os desenhos animados eram personagens de um Mundo paralelo ao nosso, mas que de facto existiam fisicamente. Mas sobretudo acreditava e idealizava que iria um dia encontrar um homem enquanto passeava no meio de um bosque maravilhoso com a doce luz das 17h, e que de repente eu olhava para cima, e ao cruzar os nossos olhares por dois segundos tudo iria acontecia. Magic time. Le coup de foudre. Love is in the air.

Cresci acreditando que a vida era um Conto de Fadas. Erro comum. A maior parte das mulheres acha isto. (Os homens não sei, confesso que ainda não entendi o que se passa na mente deles, mas também acredito que nunca irei perceber... o que pode ser engraçado, isso porém é outra questão.)
Na minha infância a Cinderela era desprezada e posta de parte, mas um dia um homem viu nela mais que uma rapariga com roupa rasgada e desempregada. Perdão, não é um homem qualquer: um Príncipe.
A Bela Adormecida, quando vivia na ilusão de que era uma pobre rapariga do campo, e encontrou um homem no bosque, apaixonou-se e vice-versa não devido a bens materiais ou motivos alheios, mas porque SIM. Porque era para ser. Ah...este também era um Príncipe, mas isso são só detalhes.
A Pequena Sereia é o extremo, não só era uma plebeia, mas uma freak. Uma sereia que por amor, abdica quase da sua identidade, e arrisca tudo para o amor. Mas não um amor qualquer, um amor que era para ser, com o Eric que ela sabia ser o homem da vida dela. O Príncipe da vida dela.

Mas onde raio é que eu quero chegar? Bom...se estás a ler isto e és gaja já topaste a milhas. Se és gajo, vamos lá ver se aguentas até ao final do texto e percebes o que quero dizer com isto tudo...pode ser que aprendas um pouco mais sobre a mente (doente) de uma mulher que não é assim tão diferente de muitas outras.

A vida não é um Conto de Fadas. Os homens não são todos Príncipes. Se tiveres roupa rasgada, és desempregada, não tens atitude para enfrentar a tua madrasta e as sua duas filhas horríveis, se vives com 7 anões, se tens uma cauda, enfim, se és freak por natureza, podes ter a certeza que a probabilidade que um homem te queira é inferior a seres atingida por um raio. Se se tratar de um Príncipe Encantado, então triplica isso por mil.
Crescemos acreditando que sim, e iludimo-nos. Faz parte da nossa natureza já. Quando uma história não nos corre bem, pensamos: "sim, mas é obvio que depois ele vai se aperceber do que perdeu quando acabou comigo, e encontra uma maneira maravilhosa de me reconquistar e acabamos por nos juntar de novo felizes para sempre".

Não.
Isto não acontece.
Isto só acontece nas imagens. Cai na real.
Se isto te aconteceu, vai para Hollywood vender a tua história que passas a cagar dinheiro também, para completar o teu Conto de Fadas. A realidade é crua e é mesquinha meus amigos. Se não entras num padrão de características específicas, o dito KIT da mulher ideal, conhecer pessoas é difícil. Conhecer pessoas interessantes é inimaginável. Conhecer pessoas interessantes que se interessem por ti... é surreal. Conhecer o Príncipe Encantado é impossível.

Então porque acreditamos? Porquê que leio isto tudo que escrevi e apesar de acreditar em cada uma das frases aqui escritas, continuo a pensar que apesar de tudo há-de acontecer algo de mágico um dia que me vai fazer acreditar que não? Que afinal a vida é um Conto de Fadas. É o bichinho da criança em mim que agarra a ilusão dos desenhos animados? Ou será a mulher adulta em mim que quer desesperadamente acreditar que algo mágico possa acontecer num dia a dia tão privo de relações maravilhosas e mágicas? Acho que são ambas. O mundo de hoje tornamo-nos frias e calculadoras, pouco espontâneas e irritadiças. Precisamos de acreditar em algo de mágico. Precisamos de viver uma fantasia. Precisamos de acreditar que um dia iremos viver felizes para sempre...nem que seja na nossa cabeça.

É caso de dizer: foda-se...!

3 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:

  • Pessoalmente acho que estou mais a viver um conto de f0d@s... E não no sentido literal... Enfim, como se diz na minha terra, cada um tem o que merece. E seu eu apanho a besta que inventou esta frase, juro que lhe vou ao trombil!

    By Anonymous Anónimo, at 19 janeiro, 2006 18:53  

  • Vou deixar aqui um comentário de gajo acerca do "padrão de características específicas", esse monstro moderno que transforma toda e qualquer tentativa de aproximação a pessoas ditas "interessantes" numa autêntica batalha!
    Pessoas inacessíveis, ou menos acessíveis que outras, sempre houve e sempre haverá. Nos contos de fadas havia sempre essa separação, fosse por motivos de estatuto social, de interesses familiares ou capricho. Hoje em dia esta separação é ditada essencialmente pelo "padrão de características específicas", esse preconceito social.
    O que é um facto é que os contos de fadas (que na verdade acho que os putos-rapazes não lhes ligam muito) relatam histórias que vencem esta barreira e por isso se tornam especiais. Agora, se isto fosse fácil de conseguir, deixaria de ser um conto de fadas. Vencer é possível, mas pede trabalho, dedicação e perseverança.
    Segunda questão: o que é um príncipe/princesa encantado/a? E como é que se sabe que é aquela pessoa inacessível, que está ali mas eu não lhe chego? Será que vale mesmo a pena o esforço de vencer tudo isto para ir atrás de alguém supostamente interessante? Vale! Mas só para se saber que é possível, para vencer esta categorização da sociedade, porque a pessoa da nossa vida normalmente está bem mais acessível, mas não a vemos, quem sabe também ela ofuscada pelo "padrão de características específicas". Sim, os gajos também procuram a pessoa da vida deles, não andam atrás de vocês só para vos comer...

    Sejam felizes e caguem nisso!

    By Anonymous Anónimo, at 20 janeiro, 2006 16:05  

  • Ah pois é. Sim senhor, gostei muito dessa resposta. Dá que pensar... ;)

    By Blogger Sari, at 21 janeiro, 2006 18:54  

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