Éramos muitos. Eu e eles. Ela baldou-se porque é uma vaca. Deixou-me sozinha como uma peça de carne no meio de uma matilha de lobos. Tudo bem, já me habituei. Não é a primeira vez nem há-de ser a ultima. As nódoas negras na alma já sararam. E espero que na alma dela também.
Era uma reunião de amigos de longa data. Amigos de há mais de dez anos. Algumas amizades duram há mais de 20 anos. São muito anos. Anos a mais na minha opinião, para alguns casos.
Ele estava lá. Aquele típico elemento indesejado que todos os grupos têm (se o vosso não tem, não é um grupo normal). Aquele típico elemento que a maioria reza para que não apareça e é precisamente aquele que aparece SEMPRE. Nunca deixa de nos abençoar com a sua companhia mesmo quando não a queremos. Há sempre um elemento do grupo que tem pena e não deixa de o avisar. Por mim, tudo bem... É como estar ali uma parede. Pode parecer frio da minha parte, mas enfim, nem tudo é perfeito na vida, nem mesmo eu.
Chego, e ele já lá estava. Sempre com aquele ar de carneiro mal morto. De cinismo mesclado com desprezo. Uma palete de emoções dissimuladas, em que a única emoção que mostra, é precisamente a que não sente: alegria.
Decorrem os cumprimentos da praxe, com cinismo de ambos os lados, e para quem me conhece minimamente sabe que abomino cinismo e ainda abomino mais ter que ser cínica, mas nesta vida temos que nos preparar para tudo, infelizmente.
O festim decorre normalmente, sento-me longe do elemento porque não quero cá confianças. Não deixo de me rir do que ele diz, nem de lhe responder educadamente. Afinal também não sou nenhum monstro: tento agir o mais normalmente possível. Rir-me quando me dá vontade e responder quando me dá vontade. Claro que houve momentos de tensão: afinal a nossa história passada não poderia deixar de evitar atritos. Uma amizade que ruiu quando me apercebi da verdadeira natureza do elemento. Afinal, o que eu julgava ser uma amizade, não passava de pseudo-amizade. De amizade por interesse da parte dele. Mas isso é uma longa história.
O elemento levou a namorada toda feminina e no entanto, consegue ser mais feminino que ela. Trata-se de um elemento que se bamboleia como uma modelo na passerelle e nos faz duvidar a cada segundo que passa, quando dirigimos o olhar para ele, se não será "virado do avesso", mas tem medo de o admitir. O elemento que tem o cabelo comprido, asqueroso, oleoso, liso, que oscila como as ancas dele quando caminha... O elemento que tão bem aprendi a desprezar, a detestar, a abominar. O elemento do qual aprendi a fugir. Eu e ela. As duas por motivos diferentes, mas a história era a mesma.
O jantar decorre sem incidentes, excepto um ataque neurótico por parte duma do grupo. Tudo bem, também já nos habituámos. Cheira-me que há ali excesso de prozac (como diz a outra), mas tudo bem.
O resto da noite também correu sem incidentes. Foi tudo normal. Limitei-me a fugir dele e a juntar-me ao grupo de quem não vai com a cara dele porque já o topa a léguas. E ele sempre com aquela mania de chamar à atenção...
Até que olhei bem para ele sem ele se aperceber... E apenas consegui sentir pena. Uma pena infinita. Tudo o resto se evaporou: as histórias passadas, os sentimentos de raiva e ódio. Ao olhá-lo, apenas vi um bichinho diminuído, confuso e amedrontado, que utiliza as armas mais desprezíveis para se defender do que tem medo: de se magoar emocionalmente e de se aperceber que afinal não é mais que os outros. É igual. Tão igual a todos, que não se destaca na multidão. Tem defeitos e qualidades, e infelizmente não entende que o que ele acha que o faz destacar da multidão não lhe traz nada para a sua felicidade. É um bichinho tão triste que nem se apercebe das grandes amizades que poderia ter e que foi perdendo a pouco e pouco devido à sua cobardia e à sua arrogância. E eu vejo para lá disto tudo e não consigo evitar sentir uma enorme pena porque no fundo este bichinho deve ser extremamente infeliz e triste.
1 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:
Dass que é mesmo isso. Juro que por vezes relembro as coisas quando nos encontramos (raramente) com ele, e penso o mesmo... afinal de contas é mesmo triste alguém ser assim, e não conseguir "sair" de si mesmo. Bah... espero que um dia consiga ser feliz, mas sinceramente concordo contigo e não sei se ele seria capaz disso.
Quanto ao abandorna-te, minha vacalhona mal cheirosa, tenho a dizer-te isto (........ subitamente, sobe um cheiro a metano no ar....), pcebes? Olha, grande sorte a minha não assistir a certas coisas, que acho que teria ficado petrificus totalus! (tchii totalus tem umas rimas bué fixes, mas mêmu buéréré pá, minha!)
By Sari, at 02 maio, 2006 22:38
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