quinta-feira, abril 20, 2006


Éramos duas. Boas e roliças como sempre.
Descemos para o metro. Merda de estação que está sempre em obras...! Já não posso com aquele chinfrim do caraças! Claro que como sempre, estava atulhado de gente. Calor humano (assim às megakilocalorias) como nós gostamos, sempre com os inevitáveis cheiros atracados e os olhares gulosos para os nossos corpos de sereias (tanto é que a minha alcunha é Ariel e a da gaja é Bacalhau).
Mas, estas coisas têm sempre a sua parte positiva... Olhamos para o lado. Ele era alto, morenaço, roliço, giro como o camandro. Ele tinha saco de desporto: como tal desportista. Ele tinha cadernos de veterinária: como tal amante de animais. De repente os nossos olhos iluminaram-se: tínhamos detectado uma presa. Um inocente repasto apetitoso para os nossos olhos.
Eu olho para o painel do metro como desculpa para olhar na direcção dele e mirá-lo bem, assim de alto a baixo. A outra ri-se da palhaçada, e faz macacadas também para olhar para ele, assim muito pouco disfarçadamente. Ás tantas as macacadas foram de tal ordem, que quando voltámos a olhar, estava ele a olhar para nós. Sim... Eu tenho 25, ela tem 26. Eu pergunto-me: será que até aos 87 vai ser isto? Desdentadas, com uma bengala, atrás de moços roliços e fazendo figuras tristes? Com risos carcarejantes e olhares ávidos para moços de pele esticada e morenona.
Eu começo a chegar-me mais a ele, para ver se íamos para a mesma carruagem, mas a gaja não foi nisso. Devia estar com medo das minhas escandaleiras do costume. Risos histéricos e piadas ordinárias. Eh pá, é que eu divirto-me mesmo com estas coisas.
Entretanto chega o metro, e ficamos tristes porque não o íamos ver mais... Mas eis que ele se chega mais a nós e ficamos os três mesmo em frente à mesma porta. Era um sinal: o rapaz sem dúvida alguma que se enamorou connosco! Com tanta gente a ficarmos como sardinhas em lata, eu preparo logo a mãozinha para o apalpão da praxe, mas no último segundo mete-se um velho ranhoso à minha frente: meto logo a mão para dentro... Sabe-se lá o que ia apalpar! Passas secas... Adiante...
Então ficamos na mesma zona da carruagem... Claro que rolaram as piadas porcas, piadas privates, risos histéricos. Para não variar tínhamos a carruagem toda a olhar para nós. Já nos habituámos. Os outros que se habituem. Quem não gosta, come menos.
Entretanto chega uma paragem onde sai quase tudo, e estávamos nós mesmo à porta. Tínhamos que nos chegar mais para trás. Digo à outra para se chegar mais para trás. Ela não percebe. Entretanto vislumbro o moço a chegar-se para trás, mesmo para a zona onde eu queria ir, para fugir à enchente. O que fiz eu: empurro a gaja mesmo para lá, assim mesmo à bruta. Ficamos lado a lado... Os corações pululam nos nossos peitos. A baba começa a escorrer pelo canto das nossas bocas. Ficamos petrificadas momentaneamente, sem reacção. De repente desatamos a rir outra vez feitas histéricas, a dizer parvoíces. O que vale é que o moço estava a ouvir música e não deve ter ouvido nada. Azar o dele, nem sabe o que perdeu.
Saímos na mesma estação... Saímos juntos do metro. Pensávamos que ele ia para um lado, mas não, foi pelo mesmo que nós, porque a outra gaja é uma sonsa e enganou-me e no fundo queria-lhe ver bem o rabo e saímos pela estação de metro contrária à que nos era devida... Nem comento. Enganou-me bem, a gaja. Falsa!
Saímos no mesmo sítio: ficámos atrás dele num semáforo. Mirámos e remirámos. Olhámos e re-olhámos. Costas, rabo, pernas, cabelo, mãos... Rimo-nos ainda mais e fizemos ainda mais piadas. Até que... Ele seguiu o curso dele e nós o nosso...
Mas este moço vai ficar para sempre nas nossas memórias. Não por ser jeitoso, não por ser cheiroso, mas porque nos fez rir que nem umas perdidas a dizer disparates!

3 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:

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