quarta-feira, março 22, 2006


Caro João Aguiar,

Apaixonei-me pela sua mão que escreve, pela sua caneta que desliza sobre o papel. Rendi-me à sua imaginação prodigiosa que abarca um leque tão vasto de assuntos. Pelo seu sarcasmo mordaz e por me fazer ver coisas que sinto, mas que estavam adormecidas. Por me fazer abrir os olhos para o mundo e por me fazer conhecer melhor a mim mesma ao descobrir assuntos pelos quais me apaixonei tanto.

Tenho que lhe dizer que é o meu escritor favorito, de entre todos os escritores com quem já tive um diálogo. Digo diálogo, porque para mim ler um livro é como estar a conversar com o escritor: ele conta-me uma história, eu conto-lhe o que sinto ao ler essa história e o que tiro dela. E que orgulho que sinto em ser portuguesa e ter um escritor como o João cá, a escrever livros sobre as nossas raízes, sobre a nossa história. Quer história passada, quer história futura. Quer história fictícia, quer real.

Adoro os seus romances históricos, como Inês de Portugal. Apaixonei-me pelos romances ocorridos na época dos romanos como A Hora de Sertório. Amo os romances no tempo dos lusitanos, como A Voz dos Deuses e Uma Deusa na Bruma, em que este último me fez chorar de ambas as vezes que o li. Quando um livro me toca tanto não consigo evitar lê-lo mais do que uma vez. É uma maldição minha.

Adoro o romance lindo como O Homem sem Nome, assim ao género do Principezinho, mágico e infinitamente triste mas cheio de esperança. Também este seu romance me fez chorar, e mais do que uma vez. É de facto uma maldição minha.

E finalmente os romances sarcásticos e críticos da sociedade de hoje em dia, como O Navegador Solitário, A Encomendação das Almas, O Jardim das Delícias e O Diálogo das Compensadas. Este último então, quase que poderia dizer que é o meu favorito, uma vez que também já o li mais que uma vez. Está extraordinariamente bem escrito e trata-se de uma retratação tão mordaz e real da sociedade de hoje em dia, escrito de uma forma tão inteligente e fluida! Como é que consegue? Mas gosto de todos os seus livros que li, de maneira igual. Não consigo fazer sobressair nenhum deles. Todos eles são especiais à sua maneira, tocando-me de maneira diferente. Até o Sétimo Herói tem a sua beleza, embora se trate de um livro sobre o fantástico. Só me falta ler o Trono do Altíssimo. Falta-me lê-lo, porque comprá-lo, já o comprei. Está ali descansadinho ao lado da minha cama à espera que lhe pegue e não o largue até o acabar.
Venho pedir-lhe que nunca deixe de escrever, porque os seus livros são de facto fora de série e fazem-me devorá-los de uma assentada. Houve vezes em que fazia directas para os acabar de ler: prendiam-me a eles com unhas e dentes de tal maneira que não os conseguia largar.

Tenho pena de não ter a sua imaginação, nem de ter o seu jeito para escrever, mas queria-lhe agradecer por partilhar comigo a sua visão das coisas e da vida. Apaixonei-me de facto forte e feio pelo seu mundo.
Que a vida permita que escreva muito mais, e que me permita a mim de os ler a todos. Nesta época em que reina a mediocridade, a futilidade e a mesquinhez, de facto o João é uma lufada de ar fresco.

Obrigada.

Eu

PS: Guardo religiosamente o meu exemplar do Diálogo das Compensadas, porque por sorte do destino, quando o fui comprar à Feira do Livro, o João estava lá e consegui que mo assinasse.
Na altura disse-lhe que adorava dos seus livros e que os tinha lido quase todos. O João respondeu-me: "Mas este é um pouco diferente dos outros". Na altura não entendi a sua resposta. Depois do o ler percebi. Tenho cara de gaiata e o João deve ter pensado que eu tinha lido os seus livros quase todos, mas referindo-me ao Bando dos Quatro, e que sendo tão gaiata, que não iria entender o sarcasmo do seu livro e a feroz crítica à sociedade. Não só o li, como entendi e adorei. Tanto, que já o li mais que uma vez.

2 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:

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