É que já estou mesmo a ver...
AVISO: a descrição que se segue é puramente ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Ou não...
"Oh filha, este ano não há amêndoas? No meu tempo de moça, tinhamos amêndoas no Natal. Nunca tivemos problemas graças ao Salazar. Veneno era aquela Coca-Cola horrosa americana."
Silêncio na sala. Não há resposta nenhuma, como aliás nunca houve desde há uns anos para cá, sempre que se sai com esta frase. Toda a gente olha para o chão a amaldiçoar o maldito 25 de Dezembro, enquanto ela amaldiçoa o 25 de Abril.
O meu pai levanta-se a bufar com falta de paciência, e começa a ir buscar a comida da cozinha para a casa de jantar, só para não disparatar e manter a postura. Mudamo-nos todos para a casa de jantar, não sem antes o meu cão ladrar desenfreadamente à fascista. Ele bem que detecta a maldade... Depois duns berros ao cão, quando na realidade quem devia levar com eles era ela, lá nos mudamos para a casa de jantar, tal qual procissão religiosa, com cara de "tirem-me daqui que a Nossa Senhora é pesada como o raio e já me doi as costas". Sentamo-nos e a minha mãe acaba de transportar o resto da comida, com a minha ajuda. "Porra, que o Perú parece que cresce de ano para ano...", penso eu já com uma hérnia nas costas.
A familiar simpatizante do Salazar atira-se à comida como se não houvesse amanhã. Come que nem um porco numa manjedoura. Quando finalmente a minha mãe se está a servir pela primeira vez, já ela está de prato levantado e lambido, a gemer e a miar que nem uma gata no cio: "Porcotte Mãe, dás-me mais um bocadinho filha?", ao que eu me viro e digo com os meus bons modos: "A minha mãe ainda não se serviu sequer uma vez!". E deito-lhe aquele olhar de: "És mesmo uma cabra esfomeada egoista, chiça!". Ela lá se toca (embora no ano seguinte faça o mesmo outra vez, deve ter ou a memória curta ou um cérebro do tamanho do dum pombo), e espera pacientemente. Quase...
Há que alimentar aquele estômago com alguma continuidade, ou então ela começa a abrir a boca e a dizer asneiras. Mais vale mantê-la ocupada com a boca cheia... Os meus ouvidos sangram quando ouvem demasiados disparates, e pelo Natal quase que morro com uma hemorragia...
Come-se como se não houvesse amanhã. Toda a gente geme no fim. A simpatizante Salazarense pede uma água das pedras porque comeu demais e se sente mal. Já se tornou numa espécie de ritual anual. É a degradação total. Parece um filme de Fellini. Só falta levantar-se e ir vomitar à casa-de-banho para comer mais. Na realidade não me espantava nada que já o tivesse feito. Afinal de contas assim que acaba de comer enfia-se na casa-de-banho. Se vai vomitar ou esvaziar a tripa, isso nunca perguntei. Há que manter o respeito pelos mais velhos.
Mudamo-nos para a sala e lá põe ela a merda da televisão aos altos berros, a tal ponto que não nos conseguimos ouvir uns aos outros. "Vaca da velha", murmura-se daqui. "Cabra de merda", suspira-se dali. Toda a gente olha para o chão, porque não há comunicação possível, a amaldiçoar o maldito 25 de Dezembro, enquanto ela abençoa a novela estar a dar, mesmo na véspera de Natal. Porque há que não perder um episódio. Isso geraria confusão e a total perda do fio à meada. Sem dúvida alguma.
Todos os anos o meu pai começa com: "Este ano esperamos até à meia-noite para abrir as prendas, porque essa é que é a tradição". Todos os anos chega-se às dez e meia da noite e já está aquele coirão a refilar que quer abrir as prendas, com cara de quem está ansiosa por dar as melhores prendas do mundo. Tanto insiste, com aquela voz esganiçada, que o meu pai cede, só para não lhe ir às goelas, ou não lhe atiçar o cão.
Todos os anos o meu pai leva com um aftershave rasca em cima, a minha mãe com uns panos manhosos da loja dos 300 para a cozinha, a minha avó com um perfume barato que de certeza faz urticária e eu levo com um pai natal de chocolate rançoso. O resto da famíli já nem me lembro o que levam. Sorriso amarelo geral. Compreende-se a ânsia para abrir as prendas. NOT. Até o meu cão leva mais prendas dela do que o resto da família. Mas tudo bem, dispenso um perfume de qualidade duvidosa, e muito mais dispenso eu um aftershave.
E assim se passa o 24 de Dezembro. Chega o 25 de Dezembro e tudo se volta a repetir. Sem falhas. Com uma precisão matemática absolutamente assutadora.
Tudo para recomeçar no ano seguinte.
AVISO: a descrição que se segue é puramente ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Ou não...
"Oh filha, este ano não há amêndoas? No meu tempo de moça, tinhamos amêndoas no Natal. Nunca tivemos problemas graças ao Salazar. Veneno era aquela Coca-Cola horrosa americana."
Silêncio na sala. Não há resposta nenhuma, como aliás nunca houve desde há uns anos para cá, sempre que se sai com esta frase. Toda a gente olha para o chão a amaldiçoar o maldito 25 de Dezembro, enquanto ela amaldiçoa o 25 de Abril.
O meu pai levanta-se a bufar com falta de paciência, e começa a ir buscar a comida da cozinha para a casa de jantar, só para não disparatar e manter a postura. Mudamo-nos todos para a casa de jantar, não sem antes o meu cão ladrar desenfreadamente à fascista. Ele bem que detecta a maldade... Depois duns berros ao cão, quando na realidade quem devia levar com eles era ela, lá nos mudamos para a casa de jantar, tal qual procissão religiosa, com cara de "tirem-me daqui que a Nossa Senhora é pesada como o raio e já me doi as costas". Sentamo-nos e a minha mãe acaba de transportar o resto da comida, com a minha ajuda. "Porra, que o Perú parece que cresce de ano para ano...", penso eu já com uma hérnia nas costas.
A familiar simpatizante do Salazar atira-se à comida como se não houvesse amanhã. Come que nem um porco numa manjedoura. Quando finalmente a minha mãe se está a servir pela primeira vez, já ela está de prato levantado e lambido, a gemer e a miar que nem uma gata no cio: "Porcotte Mãe, dás-me mais um bocadinho filha?", ao que eu me viro e digo com os meus bons modos: "A minha mãe ainda não se serviu sequer uma vez!". E deito-lhe aquele olhar de: "És mesmo uma cabra esfomeada egoista, chiça!". Ela lá se toca (embora no ano seguinte faça o mesmo outra vez, deve ter ou a memória curta ou um cérebro do tamanho do dum pombo), e espera pacientemente. Quase...
Há que alimentar aquele estômago com alguma continuidade, ou então ela começa a abrir a boca e a dizer asneiras. Mais vale mantê-la ocupada com a boca cheia... Os meus ouvidos sangram quando ouvem demasiados disparates, e pelo Natal quase que morro com uma hemorragia...
Come-se como se não houvesse amanhã. Toda a gente geme no fim. A simpatizante Salazarense pede uma água das pedras porque comeu demais e se sente mal. Já se tornou numa espécie de ritual anual. É a degradação total. Parece um filme de Fellini. Só falta levantar-se e ir vomitar à casa-de-banho para comer mais. Na realidade não me espantava nada que já o tivesse feito. Afinal de contas assim que acaba de comer enfia-se na casa-de-banho. Se vai vomitar ou esvaziar a tripa, isso nunca perguntei. Há que manter o respeito pelos mais velhos.
Mudamo-nos para a sala e lá põe ela a merda da televisão aos altos berros, a tal ponto que não nos conseguimos ouvir uns aos outros. "Vaca da velha", murmura-se daqui. "Cabra de merda", suspira-se dali. Toda a gente olha para o chão, porque não há comunicação possível, a amaldiçoar o maldito 25 de Dezembro, enquanto ela abençoa a novela estar a dar, mesmo na véspera de Natal. Porque há que não perder um episódio. Isso geraria confusão e a total perda do fio à meada. Sem dúvida alguma.
Todos os anos o meu pai começa com: "Este ano esperamos até à meia-noite para abrir as prendas, porque essa é que é a tradição". Todos os anos chega-se às dez e meia da noite e já está aquele coirão a refilar que quer abrir as prendas, com cara de quem está ansiosa por dar as melhores prendas do mundo. Tanto insiste, com aquela voz esganiçada, que o meu pai cede, só para não lhe ir às goelas, ou não lhe atiçar o cão.
Todos os anos o meu pai leva com um aftershave rasca em cima, a minha mãe com uns panos manhosos da loja dos 300 para a cozinha, a minha avó com um perfume barato que de certeza faz urticária e eu levo com um pai natal de chocolate rançoso. O resto da famíli já nem me lembro o que levam. Sorriso amarelo geral. Compreende-se a ânsia para abrir as prendas. NOT. Até o meu cão leva mais prendas dela do que o resto da família. Mas tudo bem, dispenso um perfume de qualidade duvidosa, e muito mais dispenso eu um aftershave.
E assim se passa o 24 de Dezembro. Chega o 25 de Dezembro e tudo se volta a repetir. Sem falhas. Com uma precisão matemática absolutamente assutadora.
Tudo para recomeçar no ano seguinte.
5 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:
Bárbaro!!!!
Genial!!!
Glorioso!!!
Fellini? Almodovar? Kusturika?
Mas afinal quem é o raio da velha se não é a tua avó?
Eu digo-te mulher, vai escrevendo as crónicas da tua família que ainda dá um best seller!
Porcotte no seu melhor!
Aplauso e bissssssssssss
By Maria Vinagre, at 06 dezembro, 2006 23:11
Porca, não estarás tu numa versão moderna, e bem mais sinistra do "Groundhog Day", mas Natalício?
E não dão camarão à velha para ela se calar? Minem o chão até a um bosque bem longe com pedaços de camarão, pode ser que ela faça o percurso e depois encontre a avózinha e o lobo mau e lhes chateie a cabeça a eles... :s
Porca, tu filma-me estas pérolas, que não duram para sempre... ah... sorry, esquece! AHAHAHAH
By Sari, at 07 dezembro, 2006 00:41
a descrição não pode estar melhor mas se a velha não é avó nem tia o melhor mesmo é dar-lhe um chuto no cu. até eu fiquei com raiva da velha.
By asdrubal tudo bem, at 07 dezembro, 2006 11:29
AHAHAHHAHAHAHHAHHAH Asdrubal!
Um belo dum chuto no cu para ela voar até ao fim do bosque por cima dos camarões!
(não era melhor serem gambas descascadas?)
Se não é avó, assem a perua!
By Maria Vinagre, at 07 dezembro, 2006 13:33
Duas opções:
-um calmante ou três esmagados por cima da comida da respeitável senhora.
-um laxante ou três esmagados por cima da comida da respeitável senhora.
Pronto, três opções: laxante e calmante ao mesmo tempo.
Porcotte, conto contigo para executar algum destes planos. Não contes é aos teus pais. Acho que deverias ser ultra-prestimosa e ser tu a servir a bondosa alma neste Natal, if you know what I mean.... ;)
By headache, at 07 dezembro, 2006 18:32
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