domingo, março 26, 2006

Odisseia ao WC... Puramente ficcional... Por vezes...
Eu estava aflita. Mas mesmo aflitinha, já quase naquela fase de me sair uma pinguinha para as “talecas”... Pára-se o carro numa estação de serviço. Que remédio!

O meu medo tornou-se subitamente real: uma ida a uma casa-de-banho pública... Meus deuses, eu que tento sempre evitar, não consegui. Começa a odisseia...

Abro a porta de uma cor indefinida que range (não sei onde arranjam aquelas cores, sinceramente e porque raio aquelas portas rangem sempre) e olho lá para dentro. Uma fila enorme de mulheres à espera. Crianças a correr por todo o lado e aos berros, a lavarem as mãos e a molharem tudo e todos. Cheiro a bafio, a mofo, a água de colónia barata, e enfim, sendo um WC... Cheiro a merda e a mijo mesmo. Inevitável, bem sei. Meto-me pacientemente na fila. Que remédio! Olho em meu redor: uma infinidade de mulheres aos semi-encontrões nos lavatórios para se olharem ao espelho como gado em curral, a quererem ajeitar o cabelo, a maquilhagem, a camisa, as calças, as cuecas, os cintos e os sapatos. As que não conseguem, desistem e vão-se embora. Sem lavar as mãos depois de terem estado numa casa-de-banho pública. E depois são capazes de retocar a maquilhagem no carro, com ele em andamento... Tudo bem, nem me vou chatear a criticar. O que interessa mesmo hoje em dia é o parecer, não é o ser...

A fila avança devagar. Daquelas filas que quase chegam à porta do WC... A fila é tão óbvia e tão visível, mas há sempre aqueles doces de senhoras que entram e tentam passar à frente dos outros, simplesmente porque acham que são mais qualquer coisa, que têm mais qualquer coisa. Ouvem o meu costumeiro: “Minha senhora, na nossa sociedade civilizada, as filas servem para alguma coisa”, onde ouço o costumeiro: “Ah desculpe, não percebi que havia uma fila”, sempre dito com maus modos e cara de pescada mal cozida. O que me apetece responder é: “Não, sabe, o que eu gosto mesmo é de vir para WC públicos de estações de serviço e ficar a olhar para as paredes que outrora foram brancas... É um hobby meu, sabe?”

A fila vai avançando. A conversa em meu redor é sempre muito boa: o que a Pipi Xaxão vestiu na revista Cus da semana passada, o que o maricas não sei das quantas disse no reality show aquela manhã, as infinitas férias que fizeram em família estes últimos anos em sítios caríssimos, a roupa boa da marca x que compraram para a criança de dois anos, etc... Assim um rol de interessantes assuntos. Assuntos que não interessam a ninguém. Pensava eu! Pelos vistos interessam. Rios de dinheiro gastos em revistas côr-de-rosa que se espremidas, no fundo não sai nada. A mesquinhez de falar alto e tentar impressionar os outros com as viagens à neve e a sítios paradisíacos que fizeram sem sequer pensarem que poda haver ali gente que não vai a esses sítios porque não pode economicamente. Ou porque não quer e prefere ir a sítios de riqueza cultural e não de estupidificação. A pequenez de tentar sobressair só porque compra roupa cara a um querubim de dois anos que vai dar cabo dela em três tempos: não só porque cresce, mas também porque a estraga, porque sendo criança, obviamente que o que quer é andar a correr e a fazer tropelias. Mas ai da criança se cair e se sujar com aquela roupa! Leva logo um açoite, porque afinal de contas, onde já se viu um miúdo a correr com aquela idade? É que valha-nos deuses! De facto hoje em dia a imagem conta tudo, o mostrar a toda a gente o que se é na superfície, porque na realidade se tentarmos ir mais fundo, encontramos vazio. Eco do vento.

A fila vai avançando com a minha cabeça já a latejar... Mas finalmente chega a minha vez. Entro e fecho a porta. E como eu adoro aqueles cubículos em que se ouve tudo e quase se vê tudo... Porque carga de água hão-de as portas ser tão abertas por baixo e por cima???? É que não consigo entender por nada... É uma falta de privacidade, que nem barulhos se podem fazer, porque embora o barulho lá fora seja infernal, consegue-se ouvir tudo! Por isso há que conter com certos alívios (isso era antigamente, já me estou marimbando!). A sanita claro que mete nojo, porque muitas das vezes põe os miúdos de pé nas sanitas para fazerem as necessidades. Também há aquelas amorosas que não enrolam os pensos higiénicos/tampões em papel e deixam-nos todos abertos nos caixotes do lixo... Graças a Deus hoje em dia a maioria já está equipada com aqueles caixotes fechados... E há sempre aquelas almas caridosas que não puxam o autoclismo ou se o puxam não limpam como de ser... De facto não há pachorra...

Acabei o serviço e vou tirar papel... Obviamente que não há, e eu para não variar não confirmei... Pânico... Suores... Revolvo os bolsos todos do casaco, à procura dum pacote de lenços e nada... “Porra, é sempre a mesma merda! Faço sempre a mesma asneira!!”. Sacudo-me o mais possível e volto-me a vestir, já pior que estragada. Tento chegar ao lavatório, lá arranjo um espacinho lavo as mãos, e saio dali o quanto antes, com a cabeça em água.

1 Estrunfes que tentaram tirar o protagonismo:

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